domingo, 6 de agosto de 2006

REPUDIO AOS ATAQUES ISRAELENSES AO POVO LIBANÊS E PALESTINO!!!


O Movimento Negro Unificado (MNU), que há 28 anos articula o povo negro no Brasil na luta pelo poder e no combate ao racismo, por defender intransigentemente o princípio da autodeterminação dos povos, vem a público manifestar o seu repúdio veemente à ofensiva israelense no oriente médio, que penaliza o povo palestino e libanês.

A invasão da faixa de gaza, na palestina, e os recentes ataques a alvos civis no território do Líbano atestam, à opinião pública mundial, a ação criminosa de Israel. o número de inocentes assassinados cresce a cada dia. são crianças, idosos, mulheres e homens vitimados por uma visão racista e imperialista, que considera povos que vivem e se organizam fora de seus hegemônicos parâmetros europeizantes de civilização como seres humanos de segunda categoria. sob essa ótica, os civis até agora mortos não constituem razão suficiente para a suspensão do conflito, convertem-se em simples números.

Essa guerra desproporcional, firmada no desenvolvido poderio bélico de Israel, caracteriza-se como terrorismo de estado, apoiado por seu principal aliado imperialista, os eua, além de contar com a conivência desprezível de organismos internacionais, como a onu, e a covardia das potencias capitalistas do "civilizado" mundo globalizado.

O povo negro da áfrica e diáspora bem conhece a ação genocida do imperialismo, sustentado ideologicamente pelo racismo, processo que explica o conjunto de violações que ainda hoje somos submetidos, como também a brutal interrupção ao desenvolvimento das civilizações africanas, fato que justifica nossa luta pelas reparações históricas e humanitárias ao povo negro da áfrica e diáspora.

Neste momento de profunda indignação, DECLARAMOS
NOSSA SOLIDARIEDADE AO POVO LIBANÊS E PALESTINO, E EXIGIMOS QUE O GOVERNO BRASILEIRO POSICIONE-SE A FAVOR DA IMEDIATA SUSPENSÃO DOS BOMBARDEIOS E RETIRADA DAS TROPAS DE ISRAEL DO TERRITÓRIO DO LÍBANO E DA FAIXA DE GAZA, ALÉM DE GARANTIR NENHUM TIPO DE RELAÇÃO COMERCIAL A PAISES QUE UTILIZEM DE POLITICAS GENOCIDAS A POVOS QUE VEM SENDO HISTÓRICAMENTE OPRIMIDOS! PELA NÃO ASSINATURA DO TRATADO DE LIVRE COMÉRCIO ENTRE MERCOSUL E ISRAEL, juntamente com a solicitação de uma rigorosa apuração aos crimes de direitos humanos praticados por esse estado.

Coordenação Nacional do MNU
1978-2006
Brasil

Políticas de Ações Afirmativas no Brasil


Manifesto em favor das Políticas de Ações Afirmativas no Brasil

Os africanos e povos indígenas e seus descendentes tiveram uma participação fundamental na construção das riquezas material, cultural, artística e científica do Brasil. Entretanto, os resultados desse patrimônio construído não retornaram para essas parcelas da população brasileira na mesma proporção da sua importância histórica. Esse, certamente, é um dos indícios de que no processo de formação e organização da sociedade brasileira naturalizou-se a lógica da desigualdade entre os povos constituintes da nação. Foi assim que o racismo consolidou-se como o eixo central que definiu o padrão das relações entre indígenas, negros e brancos na sociedade, sendo os últimos a força hegemônica nos espaços de poder e riqueza.
Todavia, é importante assinalar, que os povos negros e indígenas, no período da escravidão e depois da abolição de 1888, nunca se calaram e nem aceitaram o sistema iníquo de privação de direitos sociais e de liberdade. São conhecidas em nossa história, embora pouco divulgadas, as revoltas, insurreições e levantes, a exemplo da luta quilombola de Palmares, do Levante de 1835, da Revolta dos Alfaiates, dentre tantos outros episódios marcantes. No século vinte, são conhecidos os movimentos de luta pela liberdade como a Frente Negra Brasileira, a Revolta dos Marinheiros, as organizações políticas negras nacionais e tantas outras associações culturais, religiosas, recreativas que atestam que o nosso povo nunca se calou diante dos seus algozes.
As denúncias que os movimentos sociais negros fizeram de que o racismo no Brasil, no passado e no presente, era um sistema violento, excludente e segregador foram paulatinamente demonstradas pelos estudos e pesquisas científicas individuais e aqueles empreendidos por instituições oficiais insuspeitas, a exemplo do IPEA e IBGE. O Relatório de Desenvolvimento Humano do Brasil, publicado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) em 2005, confirma a existência de dois brasis: de um lado, o Brasil dos brancos, em 44º lugar no ranking mundial do Índice de Desenvolvimento Humano, ao lado de países desenvolvidos; de outro, o Brasil da população negra, que se encontra em 105º lugar, posição equivalente a de países em situação de guerra civil. Essa disparidade explica porque a expectativa de vida de uma criança negra ao nascer é em média cinco anos menor que a de uma branca; ou porque dentre as crianças que não conseguem ir à escola, 67,9% são negras. No Brasil, o indivíduo negro tem duas vezes mais chances de ser assassinado que um branco. A taxa de desemprego é em média 23% maior entre a população negra; os homens brancos recebem um salário em média 113% maior que o dos homens negros e as mulheres brancas, 84% mais que as negras (PNUD, 2005).
As populações negras e indígenas no Brasil são alvo de um processo sistemático e silencioso de genocídio. Diretamente através da ação institucionalizada da polícia e clandestinamente via os grupos de extermínio, e, de maneira indireta, pela ausência de políticas públicas de acesso à saúde, educação de qualidade, emprego e segurança. Nesse cenário, as crianças e adolescentes negros tornam-se facilmente reféns do crime organizado.
Interfere negativamente na auto-estima dos povos negros e indígenas a imagem distorcida e estereotipada veiculadas pelos meios de comunicação de massa e disseminados no sistema escolar.
Desse modo, é uma falácia afirmar que os movimentos sociais negros pregam a polarização racial no Brasil. Essa polarização é um fato desde a chegada dos portugueses em 1500, quando instituíram uma ordem colonial em que os povos indígenas e mais tarde os povos africanos foram submetidos a um regime baseado nas premissas de que esses povos eram inferiores e selvagens e, por conseqüência, seria legítima a sua escravização. O regime escravista durou quatro séculos e na sua essência foi violento, desumano e racista. Com o encerramento oficial da escravidão em 1888, os negros não tiveram direito a terra, a uma educação pública de qualidade e nem tampouco a empregos decentes. Entregues à própria sorte, foram submetidos a uma lógica racista que regula a distribuição de riquezas e poder em âmbito nacional e mantém a desigualdade social.
Na III Conferência Mundial contra Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, realizada pela ONU em Durban no ano de 2001, o Brasil, juntamente com os demais países participantes, reconheceu o tráfico atlântico e a escravidão como crimes contra a humanidade e comprometeu-se em adotar medidas políticas para erradicação do racismo e a promoção do desenvolvimento econômico, político, cultural e social da população negra, especialmente das mulheres.
Portanto, os Projetos de Lei que tramitam no Congresso Nacional que institui o Sistema de Cotas para negros e indígenas no ensino superior (PL 73/99) e o Estatuto de Igualdade Racial (PL 3.198/2000), que garante o acesso mínimo dos negros aos cargos públicos e assegura um mínimo de igualdade racial no mercado de trabalho e no usufruto dos serviços públicos de saúde e moradia, entre outros, devem ser apoiados por todos e todas que desejam um Brasil mais justo, mais igual e sem racismo.

Movimento Negro Unificado, Brasil, 05 de junho de 2006.

"MNU, na trasição para uma Organização Política de Luta de Libertação do Povo Negro"