quarta-feira, 11 de março de 2009

MULHER NEGRA UMA PERSPECTIVA DE GÊNERO, RAÇA/ETNIA E CLASSE

Adomair O. Ogunbiyi*

Neste artigo nos propusemos a apresentar da questão da mulher, numa perspectiva da mulher negra que dentre elas carrega o fardo da tríplice opressão: Gênero,Raça/Etnia e Classe. Para além, fazemos pequena incursão em aspectos da educação em uma sociedade permeada do viés androcêntrico, étno-eurocêntrico, elitista e judaico-cristão.
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*Graduando do primeiro período do Curso Normal Superior da Faculdade Candido Mendes do Maranhão FACAM.


MULHER E NEGRA


Uns dos alertas do movimento negro, no Brasil, quando se toca a questão da mulher é de que “a luta contra a múltipla discriminação sofrida pela mulher negra não pode e nem deve ser vista como apêndice do avanço de consciência provocado pelo movimento feminista”. (MNU, 1990, p.6). Também não se restringe à identificação e divulgação das heroínas negras que, no passado, tanto contribuíram no processo de libertação do povo negro, e que hoje constituem exemplos inegáveis de resistência. Tais como:

1) Nzinga Mbandi(1582-1663) Rainha e grande líder africana de Angola;

2) Tereza de Quariterê, rainha do quilombo de Quariterê durante duas décadas, no séc. XVIII;

3) Luiza Mahin (1812- ?) inteligente, rebelde participante da Guerra dos Malês, na Bahia, mãe de Luiz Gama;

4) Maria Firmina dos Reis (1825- 1921), Maranhense, em 1847 conseguiu sua nomeação para o Ensino Oficial por concurso. È considerada a primeira romancista brasileira, seu livro Úrsula foi publicado com pseudônimo Uma Maranhense, em 1859. Nele a autora já denunciava a escravidão, mostrando a contradição entre a fé cristã professada pela sociedade e a crueldade do regime escravagista, com seus castigos, torturas e humilhações;

5) Auta de Souza (1876- 1901) nascida em Macaíba, Rio Grande do Norte, poéta publicou o livro “O Horto”, escrevia versos em português e francês na imprensa de seu estado;

6) Antonieta de Barros (1901- 1952) natural de Florianópolis, Santa Catarina, educadora, jornalista, escritora e a primeira mulher eleita à Assembléia Legislativa de seu estado;

7) Carolina Maria de Jesus (1914- 1977),mineira, vai morar em uma favela do Canindé, bairro da capital paulista, torna-se escritora. Quarto de Despejo, seu livro publicado em 1960 que foi traduzido em 13 idiomas;

8) Lélia Gonzalez (1935 – 1994), mineira, doutora em antropologia, militante fundadora do Movimento Negro Unificado – MNU. Feminista negra, escreveu o livro “O lugar do Negro” em 1982.Isto para citarmos alguns dos nomes mais expressivos. Há muitos mais.A trajetória da mulher negra, na sociedade, é permeada pelo mito da história oficial ou com a qualificação dada pelo movimento negro: historiografia oficial. Essa historiografia quando não a invisibiliza deturpa sua imagem. Historicamente, a maioria dos povos não-brancos tem sido submetida à opressão e exploração. No caso, específico, da mulher negra essa mazelas são acentuadas pela tripla discriminação de que são vítimas: de gênero (por parte de homens negros e não-negros); de raça/etnia (por serem negras, são afetadas pelas manifestações do racismo: a discriminação racial e o preconceito racial) e de classe (em sua maioria estão alocada nos seguimentos mais despossuídos da sociedade). Se pela ótica das classes dominantes (androcêntrica, euro-étnocêntrica, elitista e judáico-cristã) que detém o controle dos meios de produção social o colonizado, “o proletariado”, o negro, as mulheres, homossexuais, etc. são reduzidos ao silêncio qual não será a situação da mulher negra? Para responder a essa indagação deveremos fazer um passeio pela “história silenciada”. História que sempre foi contada por homens brancos que subordinaram os direitos, deveres e aspirações das mulheres, aos seus interesses. Houve períodos onde a mulher desempenhava relevante papel social, participando de atividades coletivas de seu grupo social. Com o advento da propriedade privada a mulher é confinada ao mundo doméstico e subordinada ao jugo machista do chefe da família. Se a antropologia fala sobre a “construção” social da mulher – que varia de acordo com a expectativa de cada sociedade a respeito dos papeis que a mulher deve desempenhar, como serão esses papeis para a mulher negra ? Se os modelos, que são importantes para o funcionamento da sociedade, para a educação das crianças e a partir da imitação e que definem a expectativa em torno do comportamento desejável em cada comunidade, quais serão eles para as crianças negras?Aí, reside o foco de nossa proposta de discussão.O mito da feminilidade está em estereótipos que nem sempre são válidos para as mulheres negras, senão vejamos: para a mulher não-negra são impingidos como válidos e “naturalizados” os padrões como: sensível, delicadas, altruísta, etc. Todos estes estereótipos têm cunho preconceituoso, danoso e cruel. Porém, em se tratando da mulher negra, além desses, agrega-se a discriminação e o preconceito racial.Neusa Santos Souza, em Tornar-se Negro, diz:“Saber-se negra é viver a experiência de ter sidomassacrada em sua identidade, confundida em suasperspectivas, submetida a exigências, compelida aexpectativas alienada. Mas é também, e sobretudo, aexperiência de comprometer-se a resgatar sua história erecriar-se em suas potencialidades”(SANTOS, 1983, p.17-18)Assim como, os estereótipos que estão subjacentes à dominação machista os do preconceito racial estão para justificar a discriminação racial – manifestações a serviço do racismo. Além destes estereótipos encontramos aqueles ligados a classes sociais que garantem a manutenção das desigualdades, principalmente, em uma sociedade capitalista dependente.


A ESCOLA INCLUSIVA


Para desconstruir este quadro são necessárias inúmeras intervenções, porém, uma é primordial: na educação. Entendemos que somente uma educação baseada no respeito à diversidade minimizaria as seqüelas existentes e eliminaria este tripé desumanizador – no futuro. Jesus nos alerta que:A presença do sexismo na escola revela a necessidade de se refletir sobre os preconceitos da sociedade. O sexismo nas escolas e nos manuais escolares não influencia apenas as aspirações educacionais e profissionais das meninas. Age também sobre a percepção que cada sexo tem do outro.(JESUS, 1981, p.51)Reforça com citação de Verena Stolcke que assevera:[...] a insatisfação das mulheres negras com a falta de sensibilidade das feministas brancas em relação às formas de opressão específicas acrescentou uma nova questão à agenda feminista, ou seja, de que modo abordar a maneira com gênero, classe e raça se cruzam para criar não apenas fatores comuns, mas também diferenças nas experiências das mulheres.(JESUS, 1981, p. 54).


Para ser inclusiva a escola tem de abandonar idéias retrogradas que remontam desde a Constituição outorgada de 1824, que negava direito ao estudo para a população negra e/ou afro-brasileira. As reformas educacionais, passando pela escola tradicional até a escola nova, não conseguiram atingir a construção de identidades narrativas de libertação. No final do túnel há uma luz: a Lei 10.639, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Leis esta decretada pelo governo federal, após anos de lutas e reivindicações dos segmentos do movimento negro. A população negra já deu sua contribuição. Aguardamos, agora, a sensibilização dos demais setores da sociedade para sua implementação e assim tornarmos a educação em consonância com os pilares do conhecimento.


CONCLUSÃO


Abordar a questão da mulher numa perspectiva negra sempre foi um exercício buscado há muito tempo, entretanto, não nos sentimos satisfeitos devido a enorme gama de fatos históricos que poderiam e deveriam ser explorados, contudo, a exigüidade do tempo nos impossibilita. Esperamos ter atingido nossos objetivos principais, ou seja, atender ao desafio proposto e suscitar uma reflexão sobre a situação da mulher negra na educação.


REFERÊNCIA


ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. São Paulo: Moderna, 1996.BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília, DF, 2004.


GONZALEZ, Lélia. Hasenbalg. Lugar de Negro. Rio de Janeiro, Marco Zero, 1982.


JESUS, Ilma Fátima de. Educação, Gênero e Etnia: uma estudo sobre a realidade educacional na comunidade remanescente de quilombo de São Cristóvão, Município de Viana, Estado do maranhão.2001. Dissertação (Mestrado em Educação – Centro de Ciências Sociais da Faculdade Federal do Maranhão, São Luís, 2001).


SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se Negro. 2. ed. Rio de Janeiro, Graal, 1983.


MACLAREN, Peter. Multiculturalismo Crítico. São Paulo, Cortez, 1997.


MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO – MNU. Mulher Negra. Força Rara. Biblioteca Lima Barreto. Série Formação. Salvador, MNU, 1998.________Programa de Ação – Estatuto. Salvador, 1990.


PACAVIRA, Manuel Pedro. NZINGA MBANDI. 3. ed. Luanda, 1985.


PACHECO, Mário Victor de Assis. Racismo, Machismo e “Planejamento Familiar”. 3. ed. Petrópolis,Vozes, 1984.


QUINTAS, Fátima (org.) Mulher Negra: Preconceito, Sexualidade e Imaginário. Recife, Massangana, 1995.

4 comentários:

antonio jesus silva disse...

REVOLUÇÃO QUILOMBOLIVARIANA !
Viva! Chàvez! Viva Che!Viva! Simon Bolívar! Viva! Zumbi!
Movimento Chàvista Brasileiro

Manifesto em solidariedade, liberdade e desenvolvimento dos povos afro-ameríndio latinos, no dia 01 de maio dia do trabalhador foi lançado o manifesto da Revolução Quilombolivariana fruto de inúmeras discussões que questionavam a situação dos negros, índios da América Latina, que apesar de estarmos no 3º milênio em pleno avanço tecnológico, o nosso coletivo se encontra a margem e marginalizados de todos de todos os benefícios da sociedade capitalista euro-americano, que em pese que esse grupo de países a pirâmide do topo da sociedade mundial e que ditam o que e certo e o que é errado, determinando as linhas de comportamento dos povos comandando pelo imperialismo norte-americano, que decide quem é do bem e quem do mal, quem é aliado e quem é inimigo, sendo que essas diretrizes da colonização do 3º Mundo, Ásia, África e em nosso caso América Latina, tendo como exemplo o nosso Brasil, que alias é uma força de expressão, pois quem nos domina é a elite associada à elite mundial é de conhecimento que no Brasil que hoje nos temos mais de 30 bilionários, sendo que a alguns destes dessas fortunas foram formadas como um passe de mágica em menos de trinta anos, e até casos de em menos de 10 anos, sendo que algumas dessas fortunas vieram do tempo da escravidão, e outras pessoas que fugidas do nazismo que vieram para cá sem nada, e hoje são donos deste país, ocupando posições estratégicas na sociedade civil e pública, tomando para si todos os canais de comunicação uma das mais perversas mediáticas do Mundo. A exclusão dos negros e a usurpação das terras indígenas criaram-se mais e 100 milhões de brasileiros sendo estes afro-ameríndios descendentes vivendo num patamar de escravidão, vivendo no desemprego e no subemprego com um dos piores salários mínimos do Mundo, e milhões vivendo abaixo da linha de pobreza, sendo as maiores vitimas da violência social, o sucateamento da saúde publica e o péssimo sistema de ensino, onde milhões de alunos tem dificuldades de uma simples soma ou leitura, dando argumentos demagógicos de sustentação a vários políticos que o problema do Brasil e a educação, sendo que na realidade o problema do Brasil são as péssimas condições de vida das dezenas de milhões dos excluídos e alienados pelo sistema capitalista oligárquico que faz da elite do Brasil tão poderosa quantos as do 1º Mundo. É inadmissível o salário dos professores, dos assistentes de saúde, até mesmo da policia e os trabalhadores de uma forma geral, vemos o surrealismo de dezenas de salários pagos pelos sistemas de televisão Globo, SBT e outros aos seus artistas, jornalistas, apresentadores e diretores e etc.
Manifesto da Revolução Quilombolivariana vem ocupar os nossos direito e anseios com os movimentos negros afro-ameríndios e simpatizantes para a grande tomada da conscientização que este país e os países irmãos não podem mais viver no inferno, sustentando o paraíso da elite dominante este manifesto Quilombolivariano é a unificação e redenção dos ideais do grande líder zumbi do Quilombo dos Palmares a 1º Republica feita por negros e índios iguais, sentimento este do grande líder libertador e construí dor Simon Bolívar que em sua luta de liberdade e justiça das Américas se tornou um mártir vivo dentro desses ideais e princípios vamos lutar pelos nossos direitos e resgatar a história dos nossos heróis mártires como Che Guevara, o Gigante Osvaldão líder da Guerrilha do Araguaia. São dezenas de histórias que o Imperialismo e Ditadura esconderam. Há mais de 160 anos houve o Massacre de Porongos os lanceiros negros da Farroupilha o que aconteceu com as mulheres da praça de 1º de maio? O que aconteceu com diversos povos indígenas da nossa América Latina, o que aconteceu com tantos homens e mulheres que foram martirizados, por desejarem liberdade e justiça? Existem muitas barreiras uma ocultas e outras declaradamente que nos excluem dos conhecimentos gerais infelizmente o negro brasileiro não conhece a riqueza cultural social de um irmão Colombiano, Uruguaio, Venezuelano, Argentino, Porto-Riquenho ou Cubano. Há uma presença física e espiritual em nossa história os mesmos que nos cerceiam de nossos valores são os mesmos que atacam os estadistas Hugo Chávez e Evo Morales Ayma,Rafael Correa, Fernando Lugo não admitem que esses lideres de origem nativa e afro-descendente busquem e tomem a autonomia para seus iguais, são esses mesmos que no discriminam e que nos oprime de nossa liberdade de nossas expressões que não seculares, e sim milenares. Neste 1º de maio de diversas capitais e centenas de cidades e milhares de pessoas em sua maioria jovem afro-ameríndio descendente e simpatizante leram o manifesto Revolução Quilombolivariana e bradaram Viva a,Viva Simon Bolívar Viva Zumbi, Viva Che, Viva Martin Luther King, Viva Osvaldão, Viva Mandela, Viva Chávez, Viva Evo Ayma, Viva a União dos Povos Latinos afro-ameríndios, Viva 1º de maio, Viva os Trabalhadores e Trabalhadoras dos Brasil e de todos os povos irmanados.
O.N.N.QUILOMBO –FUNDAÇÃO 20/11/1970
quilombonnq@bol.com.br

Urariano Mota disse...

Passe um olho no texto "Treze de maio de 2009", em http://urarianoms.blog.uol.com.br/
Abraço

sergio dias disse...

Gostaria de saber se posso acrescer o blog de vocês àminha lista de blogs.
Valeu!!
www.pelenegra.blogspot.com

EDSON disse...

O inesquecível sorriso de Isabel Cristina Baltazar “É bom ser mulher e Negra” (Wilson H. Silva)

Homenagem à querida companheira Isabel Cristina, que faleceu de infarto, exatamente no dia dia 30 de março de 2009. Isabel era militante do PSOL, ex-diretora do Sindsprev-RJ, ex-militante do PSTU e ativista história do movimento negro.
Mulher, negra, guerreira, Isabel, militante do MNU, morreu na segunda-feira, dia 30, vítima de problemas cardíacos, aos 43 anos.
Sua partida ocorre no ano da Revisão do Tratado de Durban, da realização da II CONAPIR (II Congresso da Promoção da Igualdade Racial) e da criação da Secretaria Nacional da Promoção Igualdade Racial da CUT, que irá se realizar no 10º CONCUT (Congresso Nacional da CUT).
Isabel participou da CNCDR/CUT e também deve ser lembrada como mais uma mulher negra que, com firmeza e dedicação, colaborou para que os trabalhadores e trabalhadoras negros e negras deixassem o papel de coadjuvantes para assumirem o protagonismo na luta contra o racismo existente no Brasil.
O seu sepultamento foi no Cemitério do Corte 8, situado na Rua 1º de Maio, s/n.º, cidade de Duque de Caxias/RJ.